
Porcas, parafusos, rolamentos…Não, não estamos em uma oficina mecânica, mas em uma exposição de arte no hall do Palácio Pedro Ludovico Teixeira - a 10ª Goiás Mostra Artesanato, realizada pela Secretaria de Indústria e Comércio (SIC). Falando assim, até parece inimaginável que tais peças possam virar obras-primas, mas é o que Zakeu Gomes Vitor, de 52 anos, faz. Transforma sucata em arte. O escultor se orgulha e diz que deu um novo conceito ao “lixo”. Ele recolhe o material em ferros-velhos, onde costuma garimpar, e também de algumas pessoas que fazem doações. “Peças que poderiam degradar o meio ambiente são utilizadas para decorar um ambiente”, afirma.
As esculturas do artista se destacam pela originalidade. Um moinho de grãos onde são colocadas algumas ferramentas produz o mapa do Brasil confeccionado com parafusos, porcas, catraca de bicicleta e pedaços de torneira, peças que são todas soldadas. Na base, pistões de motor de carro. Ferraduras de cavalo formam um capacete. Cadeiras giratórias foram criadas a partir de correntes e ferraduras e, por incrível que pareça, são confortáveis e funcionais, podendo ser usadas no dia a dia.
Personagem clássico da Literatura Mundial, Dom Quixote também foi representado por Zakeu. O herói está sentado e com as pernas cruzadas, lendo um livro, e não em posição de combate com seu cavalo. Para fazer o busto do protagonista de Miguel de Cervantes, foram utilizados um tanque de moto para fazer o tronco, chapas de metal e fundo de uma frigideira no chapéu e a ombreira é uma parte do parachoque de um fusca. E também tem um violão gigante, de três metros, todo feito de sucata.
Inspirado nas mulheres, aficcionadas por sapatos, Zakeu criou scarpins com uma luminária antiga, chapa velha de portão, parte de um cinto e da engrenagem de um fusca, além da placa de computador. Zakeu faz questão de dizer que preza pela simetria em tudo o que faz. “Achei interessante o reaproveitamento desse material. Bem legal. Gostei bastante. Não imaginava que, com esse tipo de coisa, fosse possível fazer uma obra de arte”, comentou a funcionária pública, Andréa Silveira Brod. O trabalho também despertou a curiosidade da servidora Iara Mundim. “O material que ele usa é impressionante. Deve ser muito difícil porque cada peça tem muitos detalhes”, reconhece. Zakeu, que mora em Cidade Ocidental, no Entorno do Distrito Federal, começou a se encantar pelo mundo artístico aos oito anos. A exposição vai até a próxima sexta-feira, no PPLT, em horário comercial, e com entrada franca.
Arte levada a sério
De acordo com o gerente de Artesanato da SIC, André Franco, o Palácio Pedro Ludovico Teixeira (PPLT) foi eleito para sediar a exposição por ser um espaço de alta visitação pública, onde circulam aproximadamente 30 mil pessoas por semana. O hall do Palácio acaba se transformando em uma galeria de arte a cada duas semanas. Todas as peças também estão à venda. André explica que a SIC se preocupa em garantir que os artesãos possam sobreviver de sua arte. “O trabalho artesanal tem o lado artístico, mas a pessoa que faz o produto precisa sobreviver. Os artesãos são apaixonados pelo que fazem e tentamos dar as condições para que eles possam sobreviver da sua própria arte. Nós temos a Central do Artesanato, que fica na Rua 1, perto da Avenida Goiás, no Centro de Goiânia, que comercializa as peças e trata de escoar a produção dos artistas”, informa.
A Secretaria de Indústria e Comércio (SIC) está cadastrando os artesãos goianos a fim de incentivá-los a profissionalizar essa atividade. Desde 2013, está sendo emitida a Carteira Nacional do Artesão e do Trabalhador Manual, que possibilita, entre outras vantagens, a isenção do ICMS na comercialização dos seus produtos dentro e fora de Goiás, participação em feiras nacionais e internacionais, retirar nota fiscal avulsa no Vapt Vupt ou na Agência Fiscal de seu município. Esta é a 10ª edição da Goiás Mostra Artesanato, que é gratuita. Quando chegar à 50ª edição, a SIC pretende lançar um livro com a história e obra dos artistas expositores, intitulado Cinquenta Artesãos de Goiás.
- Goiás Agora